quinta-feira, 25 de novembro de 2010

(sobre a febre e a ausência do cuidado)

Eu acho que a gente deveria respeitar mais a vida,
e entender melhor o conceito de amor,
eu acho que a gente deveria respeitar mais o amor,
e entender melhor o conceito de família;

Eram sete e meia da manhã,
e eu estava com todo meu dinheiro guardado embaixo do colchão,
eu era moleque, e só pude ouvir os barulhos da porta sendo arrombada,
eu estava sozinho em casa;

e por único momento na vida eu tive medo,
então eu pulei do beliche,
e corri pra debaixo da cama,
enquanto ouvia vozes e coisas quebrando no chão;

então eu me perguntava sobre o que fazer,
porque por alguma razão que não sei,
eu estava sozinho em casa, e só pude ouvir os barulhos das portas sendo arrombadas,
a minha estava chegando;

e tudo o que conseguia entender era:
- ele não está em casa,
- não tem ninguém em casa, ninguém,
- vamos embora.

Eu sei, eles queriam o meu dinheiro,
eles queriam a minha vida,
e o quanto de dinheiro alguém podia pagar por ela,
porque por alguma razão que não sei, eu estava sozinho em casa,

Eu sei que a minha porta não chegou,
mesmo assim eu acho que a gente deveria respeitar mais a vida,
e entender melhor o conceito de amor,
eu acho que a gente deveria respeitar mais o amor,
e entender melhor o conceito de família;


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

[do abraçar dos dias]

o que vai ser eu nunca vou saber,

o amanhã desaparece a frente dos meus olhos,
os dias são sempre diferentes, e por alguma razão eu passei a ter medo disso,

talvez, esteja acostumado com o cinza,
e com a forma de rezar o mesmo terço,
e agora, agora tem sido bom,
tem sido diferente;

por isso não me importo com as pendências da vida,
e com as comparações dos dias,
apenas seja mais um dia,

porque o que vai ser eu nunca vou saber,

não existe fim nem começo em tudo isso,
e quem sou eu pra falar disso,
fazem mais de mil semanas que não falo,
então por favor, não me deixe falar;

nas vezes em que olho pra você,
percebo uma quantidade de coisas que você quer me dizer,
e percebo também um outro tanto que você não quer me dizer,
então da vida, só os dias que são, sempre serão;

o amanhã nem existe,
e o daqui a pouco sempre será uma dúvida,
no entanto me sinto feliz,
e isso é bom pra mim;

e se por acaso alguém me perguntar o que é,
vou dizer que é o tempo e a vida,
e as palavras que eu não deveria dizer,

e se perguntarem o que vai ser disso,
então eu ficarei sem resposta,
porque o que vai ser eu nunca vou saber,







quarta-feira, 17 de novembro de 2010

[Sobre a televisão]

Me incomoda precisar de ti,
depois de todo esse tempo distante de ti,
sem te ver, sem te ouvir,
agora me encontro te olhando frente a frente,
como se eu não tivesse opção,
é, pode ser que eu não tenha,
porque da vida a gente não sabe o que fazer as vezes,
e pouco, bem pouco, há pra onde correr,
então você me veio como um presente,
que por algum tempo evitei receber,
mas é a solidão destas quatro paredes,
pouco posso fazer pra fugir,
senão fingir que está tudo bem,
enquanto a gente no quarto se entende,
aprendo a te ouvir novamente,
e você esquece o meu desprezo desses anos todos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

[Da graça que não tem no final]

Não sejam idiotas como eu fui,
Amem,

Do que resta dessa vida nada vai ficar,
do que resta a se viver nada será,
no final você vai estar só,
é fato;

Não sejam imortais como eu fui,
Amem,

Do que resta da dor nada vai passar,
é um calor fraco,
e um frio que corta qualquer pele,
podem ter certeza que mais vale morrer de amor,
do que viver pra sempre;

Eu te aconselhei muitas coisas pequena,
eu estava errado,
quando dizia pra você brincar com o mundo,
pra você zombar de todos os corações que encontrasse;

Sim, estou confessando que estava errado,
fui egoísta, e meu pensamento sempre foi egoísta,
eu ria quando você sentia minha falta,
e a gente ria dos outros quando diziam não viver sem nós;

Amar era ridículo,
e eu ainda brincava:
"você quer ver quantas pessoas vou amar hoje?"
eu te ensinei tudo errado,
era o meu medo, e minha forma de durar pra sempre;

Mas ei, eu me enganei pequena,
não me ouça mais,
porque agora eu já estou morrendo,
e vou morrer sozinho,
e todas as vezes que você chorou por alguém, você tinha razão;

Agora, pra mim, é tudo mentira,
tudo, não tenho nenhum amor comigo,
e não te falo isso porque não tenho ninguém,
eu tenho, mas não tenho nenhum amor comigo,

Não me ouça mais,
porque agora eu já estou morrendo,
e vou morrer sozinho,
e todas as vezes que você chorou por alguém, você tinha razão;