terça-feira, 25 de janeiro de 2011

(door inside)

Eu teria medo,

Eu teria medo se não tivesse certeza,

terceiro dia, décimo mês de lá pra cá,
alguém adentra a porta da casa,
vem em minha direção,
eu paro, respiro,
prendo o ar pela última vez,
com um olhar profundo me olha,
parecendo alguém que sabe bem o que faz,
mas não sabe exatamente o que vem depois,
então um beijo acontece,
sou levado a crer que não estou em mim,
e sou tomado por um ligeiro desespero,
e por uma glória que toma meu rosto e começa a sorrir,
eu perdi,
perdi toda a inviolabilidade,
toda afeição indestrutível,
agora sou porta de entrada,
e pelos muros alguém escala os lábios,
delirando, e sem qualquer consciência do amanhã,
ele, o amanhã, não devia existir,
mas você quebrou toda casca imortal,
e todo corpo que durava pra sempre,
se foi,
toda intolerância,
e todo deboche, se foi,
toda raiva, e todo desejo de fugir,
toda sanidade, e toda glória eterna se deixou seduzir pela inquietação,
pela perturbação da entrega,
pelo gosto,
pela vontade,
pelo desejo,
pelo pêlo,
pelo cabelo,
pelo cheiro,
pelo corpo;

Eu teria medo,

Eu teria medo se não tivesse certeza;


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